Vidas Secas
Agachada Sinhá Vitória assopra o fogo de lenha e uma nuvem
cinza devido a fumaça cobriu-lhe a cara, a fumaça entrou em seus olhos fazendo
com que chorasse e limpasse suas lágrimas com as costas das mãos. As faíscas do
fogo bateram em Baleia, que estava tirando um cochilo, mas consequentemente
acordou devido à mudança do ar e o estalo dos gravetos. Baleia se encantou com
as faíscas aprovou com a cauda e resolveu demonstrar sua admiração para a dona
que acabou dando-lhe um pontapé fazendo com que a cachorra saísse humilhada e
com sentimentos revolucionários.
Sinhá Vitória falou inconveniências para Fabiano por
causa da cama de varas, que tanto queria. Fabiano apenas grunhiu, deitou-se na
rede e foi dormir afinal para ele mulher era bicho difícil de entender. Sinhá
Vitória continuou enfurecida saiu procurando algo para descontar, mas estava
tudo em ordem, então se queixou da vida e acabou dando mais um pontapé em
Baleia.
Olhou os meninos pela janela e estavam brincando na lama
ambos sujos não encontrou motivo para repreendê-los. Pensou novamente na cama
de varas e mentalmente xingou Fabiano. Achava um absurdo dormir naquilo, já
haviam se acostumado, mas porque não tinham uma cama de lastro de couro (que
era bem mais agradável) como as outras pessoas?
Mais de um ano que falava nisso para Fabiano, ele
concordara mais sempre fazia cálculos errados tanto para o couro quanto para a
armação. Poderiam conseguir se economizassem na roupa e no querosene, para
Sinhá Vitória isso era impossível já que se vestiam mal e os meninos andavam
nus. Tinham discutido para cortar outras despesas da casa, mas não se entenderam
e Sinhá Vitória mencionou o dinheiro gasto por Fabiano na feira com jogo e
cachaça. Fabiano ressentido reclamou dos sapatos caros de verniz que Sinhá
Vitória usava em festas dizia que ela andava como um papagaio e ficava ridícula
ao calçá-los. Devido a esse comentário fez com que ela ficasse gravemente
ofendida com a comparação e se não fosse o motivo que Fabiano lhe inspirava,
teria continuado a discutir aquilo. Equilibrava-se mal, tropeçava. Devia ser
ridícula, mas a opinião de Fabiano a entristeceu muito.
Agora pensava nela de mau humor. Julgava-a inatingível e
misturava-a aos deveres da casa. Foi à sala pegou da prateleira o cachimbo e
pele de fumo saiu para copiar Fabiano. Ouviu o chocalho e pensou que o marido
poderia ter se esquecido de curar a vaca laranja. Quis acordá-lo para
perguntar, mas se distraiu olhando os xiquexiques e os mandacarus em volta da
campina.
Um calor se levantou da terra queimada. Lembrou-se da
seca se assustou e seus olhos pretos se arregalaram, fez o máximo para afastar essa
recordação por medo de se tornar realidade.
Rezou baixo e tranquilizada desviou a atenção para um buraco que estava
na cerca das cabras. Concertou o buraco com as mãos e a pele de fumo e voltou
para a cozinha.
Acendeu o fogo agachada e pôs-se a fumar um cachimbo de
bambu. Deu um cuspe para longe que por cima da janela caiu no terreiro.
Preparou-se para cuspir novamente e associou o cuspe com a recordação da cama
de varas. Se o cuspe alcançasse o terreiro ela teria a cama em antes do fim de
ano, não conseguir e tentou mais algumas vezes tentativas fracassadas. E a
consequência foi ficar com a garganta seca e ficou desapontada. Pegou uma
caneca e bebeu a água salobra.
Lembrou-se que a panela que estava no fogo não estava
temperada e tinha acabado a água do bebedouro. Levantou a tampa e levou
baforada do vapor na cara e ia deixando a comida queimar. Pôs agua remexeu e
adicionou o sal na panela. Pensou no bebedouro, veio o medo da seca. Olhou
novamente os pés espalmados que não se acostumava a calçar sapatos e lembrou-se
do que Fabiano dizia a respeito dos pés de papagaio e se zangou.
Recordou-se do papagaio que viajava com ela em cima do
baú de folhas e repetia o latido de Baleia Gaguejava “meu louro” era o que
sabia dizer fora imitar os bichos. Coitado. Sinhá Vitória nem queria ter
lembrado daquilo esqueceu a vida antiga e sentia-se como se sua vida houvesse
começado quando chegou à fazenda. A citação dos sapatos lhe abriu uma ferida e
viajem voltou a reaparecer. As alpercatas de Sinhá Vitória haviam sido gastas
nas pedras, com o baú de folhas na cabeça, carregava o filho mais novo, com
fome, cansada, meio morta e ainda levava a gaiola do papagaio pensou que
Fabiano era ruim e mal-agradecido.
Olhou para seus pés novamente e sentiu pena do louro,
pois o matara para o sustento da família. Chegou á porta, olhou as folhas
amarelas da catingueira e pensou que Deus não poderia permitir outra desgraça.
Procurou outras coisas para entreter-se. Pegou a cuia grande, encheu de água o
caco das galinhas e colocou os meninos para dentro de casa, os xingou de porcos
e quase que dizia que estavam sujos como papagaios. Os garotos correram e foram
para debaixo da prateleira do quarto. Sinhá Vitória reacendeu o cachimbo.
Pensou que seca estava longe.
Começou a
sonhar de novo com a cama de lastro de couro, lembrou-se do papagaio e com
grande esforço tentou isolar o pensamento com o objeto que tanto queria. A cama
velha feita de varas havia um nó, um calombo grosso na
madeira. E ela se encolhia num canto, o marido no outro, não podiam estirar-se
no centro. Para Sinhá Vitória a família era quase feliz só faltava uma cama.
Pensou em vender as galinhas e a marrã para conseguir comprar a cama, mas
lembrou-se que a raposa comeu a galinha mais gorda. Queixava-se dos roncos de
Fabiano e da cama velha de varas que tinham e voltou seu pensamento a cama
queria igual à de Seu Tomás da Bolandeira feita pelo carpinteiro de couro e
sucupira aquilo sim era uma cama de verdade.
Sinhá Vitória, como é notável deseja
totalmente uma cama de verdade, sonha com várias maneiras de consegui-la, mas
não põe nenhuma em prática por temer a reação de Fabiano. Ela deseja tão
profundamente essa cama que parece ignorar o fato de ter dois filhos e pensar
no futuro deles, ou seja, ela está sendo totalmente egoísta. Esse sonho que ela
tem, ela considera impossível de realizar, pois não luta para conseguir.
O fato de Sinhá Vitória desejar esse
móvel mais do que qualquer coisa não é nada diferente de muitos brasileiros de
hoje em dia, que sonham com coisas consideradas por essas pessoas
“impossíveis”, pois não lutam para conseguir realizar.
A culpa consequentemente é tanto do
governo que faz com que as pessoas vejam seus sonhos como algo irrealizável e
impossível de ser conquistado, quanto das pessoas que acreditam que apenas
reclamam e não lutam, não tomam uma atitude e postura decente para que realize
o desejado esperando então que tudo venha fácil. Graciliano Ramos aborda em
suas obras, as situações típicas vividas pelas pessoas até hoje.
E.E. Prof Caran Apparecido Gonçalves
Karyne Schiavoni 3 ºr D
E.E. Prof Caran Apparecido Gonçalves
Karyne Schiavoni 3 ºr D